sexta-feira, 12 de março de 2010

Para depois pensar em 2011

Aqui estou novamente para fazer um balanço rápido da cerimônia do Oscar 2010.

Como vocês puderam perceber, tive uma quantidade de acertos razoáveis. Foram apenas seis erros, dos vinte acertos possíveis.

As premiações nas categorias de melhor filme; direção; ator e atriz; e ator e atriz coadjuvantes ,seguiram o script. Kathryn Bigelow era, de fato, a favorita.

Tínhamos ainda a escrita de que nunca uma mulher havia levado o prêmio de melhor direção no Oscar. Tudo parecia evidenciar que a festa seria mesmo dela, inclusive o dia posterior à vitória, um 8 de março.

Mas essa conversa de que ganhou por ser mulher e já havia passado da hora, não cola. Antes de atribuir a ela o favoritismo é preciso dizer Kathryn teve méritos para estar entre os indicados e levar logo duas estatuetas para casa, melhor filme e direção.

Assistam à "Guerra ao Terror"! Vocês verão que o filme não é partidário, não evapora proselitismo. Muito pelo contrário, o filme mostra de maneira crua a situação de um esquadrão especializado em desarmes de bombas no Iraque. É aquilo e nada mais. Bigelow, com pulso firme, dirige um belo e tenso filme que mostra como a guerra é uma verdadeira droga.

Kathryn Bigelow: só deu Ela.

Destaco também os prêmios de atuações nas categorias de coadjuvantes. Mo'Nique e Chistoph Waltz deram um verdadeiro show nos seus respectivos filmes. Este ano, com certeza, os protagonistas acabaram se tornando secundários frente à mostruosidade de Mo'Nique e a comedicidade de Waltz em cena. Prêmios nada mais que merecidos!

Mo'Nique e Christoph Waltz: os verdadeiros astros


Não é o mesmo que posso dizer em relação à Sandra Bullock, que venceu pela simpatia e pela arrecadação surpreendente de "Um Sonho Possível" nas salas de cinema americanas. Baseando-me nesse último porque, a vitória de Bullock é compreensível, já que o Oscar dialoga com a ótica da indústria, das grandes bilheterias e nem sempre na qualidade da interpretação do ator ou atriz.


Sandra Bullock: simpatia rende prêmios

As grandes surpresas da noite foram os prêmios de melhor roteiro adaptado para "Preciosa"; mixagem e edição de som ganhos por "Guerra ao Terror"; fotografia que foi para "Avatar" e filme estrangeiro que acabou indo para o argentino "O Segredo dos seus Olhos".

Ninguém, NINGUÉM, esperava a vitória de "Preciosa" em roteiro adaptado. Até mesmo Geoffrey Fletcher, o vencedor, não acreditou quando anunciaram seu nome. "Amor sem Escalas", infelizmente, ficou de mãos vazias. Mas aqui não entro na questão do merecimento. Fletcher conseguiu fazer com que a obra "Push" da escritora Sapphire, fosse mais suave em sua roupagem cinematográfica. Acreditem! Há quem diga que o livro é ainda mais pesado que o filme, o que é praticamente inimaginável, tendo em vista o sofrimento da personagem principal que parece ser elevado à vigésima potência. Já "Amor sem Escalas" tem uma narrativa poderosa com diálogos e reflexões existencialistas muito profundas. São dois filmes com perfis muito diferentes e, por isso, merecedores de prêmios por motivos distintos.

Os prêmios de mixagem e edição de som estavam mais próximos de "Avatar". Era esperado que o filme não vencesse nas categorias principais e, por este motivo, levasse a grande maioria dos prêmios técnicos já que se tratava de uma grande produção que não poderia ser ignorada por completo. Mas a história foi outra! "Guerra ao Terror" ficou com os prêmios. Um adendo: a Academia adora dar tais prêmios a filmes de guerra. Então...

O que não deveria ser conquistado pelo filme de Cameron - o prêmio de melhor fotografia - acabou indo para ele mesmo. Uma vitória contestável mediante aos recursos digitais que existem aos montes e em tudo que se possa imaginar em "Avatar".

Cameron e sua trupe: gosto de "quero mais"

Por fim, confesso que o que mais me deixou decepcionado foi a vitória de "O Segredo dos seus Olhos" na categoria de melhor filme estrangeiro. Não, não... já adianto que não dou espaço para revanchismos bestas. O fato do filme ser argentino não influencia na minha persistência em considerá-lo inferior ao alemão "A Fita Branca". Amo o desfecho do filme de Juan José Campanella, porém acredito que um filme não possa se sustentar por um final magistral unicamente. A narrativa novelesca de Campanella ao longo de todo o filme é um problema para mim. Já "A Fita Branca" é algo paranormal! É melhor em todos os sentidos!

Mais um pedido: não deixem de conferir! É um retrato em preto e branco da sociedade alemã antes da primeira Guerra Mundial. O filme mostra como uma geração medíocre, dogmática, punitiva e hipócrita não poderia dar origem à uma Alemanha diferente daquela que compactuou com os horrores nazistas.

Bem, eu fico por aqui! Quero terminar o texto com o título de uma matéria de um jornal mineiro que noticiava o triunfo do cinema independente ("Guerra ao Terror" e "Preciosa") nesta edição do Oscar. Ele resume, em linhas gerais, as conclusões que chego ao refletir a respeito do Oscar 2010: "No fim, ganhou o cinema".

André Martins

3 comentários:

Lara disse...

Muito bom o texto. Parabéns André, vc escreve super bem!
Parabéns ao Não é só glamour tmb...tá arrasando!!

Denise Carvalho disse...

Parabéns pelo texto André, você escreve muito bem! Tô adorando o blog naná :)

André disse...

Obrigado, girls!

Beijo